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Câmara reforça união de centrão e bolsonaristas contra STF e põe sucessão no foco após caso Brazão

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A manutenção da prisão do deputado Chiquinho Brazão (sem partido-RJ) embute repercussões que passam pela sucessão da presidência da Câmara, com um enfraquecimento do atual presidente, Arthur Lira (PP-AL), à união de líderes do centrão a bolsonaristas para uma resposta ao STF (Supremo Tribunal Federal).

Com um placar de 277 a 129, os parlamentares decidiram, na quarta-feira (10), manter na prisão o deputado suspeito de mandar matar a vereadora Marielle Franco (PSOL-RJ) em 2018. Foram 20 votos a mais do que o necessário no plenário da Casa.

Alguns dos principais aliados de Lira encabeçaram articulações pela derrubada da detenção sob o argumento de que a decisão do Supremo viola prerrogativas de parlamentares e abre um precedente perigoso.

O líder da União Brasil, Elmar Nascimento, foi o principal articulador da tentativa de impor uma derrota ao STF e declarou publicamente que votaria contra a prisão, na terça (9). Houve ainda um movimento para esvaziar a sessão, para que não se alcançasse o mínimo de 257 de votos necessários para aprovação do relatório que concluía por manter a prisão.

Do total de 513 deputados, 77 faltaram e 28 se abstiveram. O próprio Brazão não poderia votar e Lira só o faria em caso de empate.

Um terço das bancadas dos partidos União Brasil e Republicanos se ausentou na sessão. Na União Brasil, foram 16 votos para manter a prisão, 22 contrários, 18 ausentes e duas abstenções. Já no Republicanos, 20 deputados apoiaram a prisão, 8 se opuseram e 14 não compareceram.

“Houve um movimento para esvaziar a votação, mas ele não funcionou. Apesar de todas as movimentações feitas pela extrema direita e por parte do centrão, a democracia e a decisão do STF prevaleceu, porque ela está ancorada na legalidade”, afirmou a deputada Erika Hilton (PSOL-SP), líder da legenda na Casa.

Havia entre parlamentares a preocupação com a comoção social envolvida no assassinato da vereadora. Isso pesou tanto para que as articulações pela derrubada tenham sido menos explícitas quanto para enfraquecer o ímpeto do Congresso em agir apenas com o intuito de dar um recado ao Supremo.

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De todo modo, entre os parlamentares o resultado foi interpretado como um sinal de que Lira e seus principais aliados não têm a mesma força de tempos atrás. A aposta de deputados é que o placar indicou, também, que a disputa pela sucessão de Lira está mais aberta do que nunca –Elmar é próximo do deputado do PP-AL e busca se eleger presidente na sucessão de Lira.

Lira tem negado articulações nessa votação e, na quinta-feira (11), mostrou-se irritado e atacou o governo Lula.

O presidente da Câmara sempre repetiu que o STF interferiria em atribuições do Legislativo. Com relação à prisão de Brazão, o entendimento defendido por ele e outros parlamentares é de que haveria desrespeito à Constituição, que permite prisão de parlamentar no exercício do mandato apenas em flagrante e por crime inafiançável.

Ainda sobre o STF, líderes do centrão se uniram a apoiadores de Jair Bolsonaro (PL) no Congresso e preparam uma nova proposta de revisão do foro especial. A ideia vem sendo discutida há algumas semanas, mas ganhou força após a Câmara a sessão sobre Brazão.

A articulação é uma resposta ao julgamento do STF sobre o tema, que está em andamento. O presidente da Câmara já sinalizara a aliados que pode levar adiante uma PEC (proposta de emenda à Constituição) para transferir os processos de parlamentares para os TRFs (Tribunais Regionais Federais) ou para o STJ (Superior Tribunal de Justiça).

O principal objetivo é tirar do Supremo o poder de julgar e aplicar medidas cautelares contra políticos com mandato. O STJ é hoje responsável por analisar, por exemplo, casos de governadores, desembargadores e integrantes de Tribunais de Contas dos estados. Os processos só chegam ao STF em caso de recurso.

A nova proposta seria uma alternativa à discussão anteriormente defendida pelos bolsonaristas, que pediam o fim do foro especial e a remessa de processos contra parlamentares para a primeira instância.

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Já integrantes do centrão preferem uma espécie de meio-termo. Na avaliação desse grupo, magistrados de primeira instância, que guardam conexões com diferentes grupos de poder em seus estados, seriam mais suscetíveis a interferências políticas.

Hoje, os parlamentares têm foro especial no STF -isto é, são julgados pela mais alta corte do país- por crimes cometidos durante o mandato e relacionados ao exercício do cargo.

A regra foi definida pelo próprio Supremo em 2018. A definição reduziu a quantidade de processos que tramitam no tribunal. Dados de 2022 do STF mostram que o número de ações penais e inquéritos na corte caiu 80% em relação ao período vigente antes da mudança da norma.

Os ministros, no entanto, discutem uma alteração na norma para ampliar a competência de julgar os parlamentares e outras autoridades –ou seja, manter esses políticos sob sua jurisdição, mesmo quando os fatos julgados ocorreram antes do início do mandato e não têm relação com o cargo.

O tribunal já tem cinco votos para determinar que o foro seja mantido mesmo depois do fim do mandato parlamentar de políticos por qualquer causa –renúncia, não reeleição ou cassação.

Caso o novo entendimento do Supremo seja firmado, boa parte dos processos de parlamentares continuaria nas mãos do STF, o que aumenta o poder de pressão da corte em relação ao Legislativo, que tem encampado uma série de propostas que contrariam os magistrados.

Nos bastidores do Supremo, a avaliação é que a mudança se faz necessária para que os ministros tenham mais poder sobre os parlamentares. Além disso, o foro serviria para proteger os próprios magistrados de ações de opositores depois que eles se aposentarem da corte.

“Folhapress”

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Planalto e STF sinalizam ao Senado aceitar “anistia light”

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Projeto se diferenciaria do que vem sendo discutido na Câmara por não impor um perdão judicial, como deseja parte da bancada bolsonarista

Palácio do Planalto e uma ala do STF (Supremo Tribunal Federal) sinalizaram à cúpula do Congresso Nacional que aceitam a “anistia light” que vem sendo debatida no Senado.

Segundo fontes que vêm ajudando na confecção do texto, a proposta que parte do STF sinaliza aceitar envolve quatro aspectos:

  • Redução de penas para crimes de tentativa de golpe de Estado e abolição violenta do Estado Democrático de Direito;
  • Agravamento da pena se a abolição violenta do Estado Democrático de Direito for cometida mediante tentativa de golpe de Estado;
  • Criação de um tipo penal específico, com penas menores, para quem comete crimes contra a democracia influenciado por multidão, mas sem ter exercido papel de liderança ou financiamento;
  • Aumento da pena para quem liderar atos antidemocráticos.

Essa “anistia light” se diferenciaria da que vem sendo discutida na Câmara por não impor um perdão judicial, como deseja parte da bancada bolsonarista, mas por propor uma mudança nos tipos penais e na forma de aplicação das penas.

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Na prática, ela teria impacto reduzido nas penas aplicadas a Jair Bolsonaro (PL) e demais condenados na semana passada, mas alteraria significativamente a situação dos julgados pelos atos de 8 de janeiro.

O Planalto sinalizou a senadores que aceita esse formato, desde que o STF concorde. Um ministro da Corte disse à CNN que uma posição definitiva só poderá ser tomada após a análise do texto do projeto em si, que ainda não existe.

Segundo senadores, alguns esboços já foram elaborados por consultores legislativos a pedido do presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP). O projeto alteraria a Lei 14.321, de 2021, sancionada por Bolsonaro, que trata de crimes contra a democracia.

Hoje, a lei prevê reclusão de 4 a 8 anos para o crime de abolição violenta do Estado Democrático de Direito, e de 4 a 12 anos para tentativa de golpe de Estado. O texto em construção, além de reduzir essas penas, consideraria que a punição para abolição do Estado Democrático de Direito seria agravada se cometida mediante tentativa de golpe de Estado.

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Isso porque, segundo o entendimento dos consultores que tratam do assunto, toda tentativa de golpe é uma abolição violenta do Estado Democrático de Direito, mas nem toda abolição do Estado Democrático de Direito configura uma tentativa de golpe.

O problema para o avanço dessa proposta é que parte dos bolsonaristas a rejeita por ela ter impacto reduzido na pena imposta aos condenados na semana passada pela trama golpista, como Bolsonaro e generais da reserva. O Planalto e o STF já sinalizaram não aceitar nenhum texto que implique, na prática, em perdão ao ex-presidente.

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