Por Joel Teixeira
O professor Kleber Guimarães Miyaki, fez recentemente uma prova seletiva para ocupar uma vaga PCD – Pessoa com deficiência na Educação Pública Municipal de Colíder. Ele tem deficiência visual e é legitimado pela Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência, Nº 13.146, DE 6 DE JULHO DE 2015.
O professor lecionaria na Escola Municipal Fábio Ribeiro da Cruz. Mas precisou passar por perícia médica para ser efetivado no cargo. Nessa quarta-feira (26) por volta das 13h, o perito médico Lourival Alves Frota, CRM 3451 matrícula 1407 atestou Kleber Miyaki como inapto para exercer o ofício pelo qual lutou por anos.

Em entrevista ao TV Notícias, o jovem professor mostrou-se triste e desapontado com o veto, ‘ontem, quando tive de esperar, e pela forma que fui tratado eu já previa o resultado e foi isso, quando cheguei à sala dele no SESP, o documento já estava pronto. Percebi um certo sarcasmo, quando ele me desejou boa sorte.
O que diz a lei
O artigo 2º inciso 1º é bem claro, A avaliação da deficiência, quando necessária, será biopsicossocial, realizada por equipe multiprofissional e interdisciplinar. No caso de Kleber, apenas um profissional o avaliou. Portanto há uma falha gritante no quesito de avaliação.
O direito do PCD e a discriminação
Art. 4º Toda pessoa com deficiência tem direito à igualdade de oportunidades com as demais pessoas e não sofrerá nenhuma espécie de discriminação.
- 1º Considera-se discriminação em razão da deficiência toda forma de distinção, restrição ou exclusão, por ação ou omissão, que tenha o propósito ou o efeito de prejudicar, impedir ou anular o reconhecimento ou o exercício dos direitos e das liberdades fundamentais de pessoa com deficiência, incluindo a recusa de adaptações razoáveis e de fornecimento de tecnologias assistivas.
Quem é Kleber Miyaki
Kleber Miyaki vem da extrema pobreza e fome. Tinha tudo para se tornar alguém fora da lei, ir para a marginalidade, pois a maioria da sociedade colidense, fechava os olhos para uma família de miseráveis, moradora no Bairro Celídio Marques, região periférica da cidade, onde ele morou desde garotinho franzino. De acordo com fontes locais, lá a Polícia costuma perseguir suspeitos pelas madrugadas, atira atrás de seus alvos, entra em casas de moradores, sem mandado judicial e pouco importa se o tiroteio assusta as crianças ou a quem quer se seja.
Violência na família
Kleber perdeu dois irmãos, mortos de forma bárbara há alguns anos. Crimes que não foram solucionados até hoje pela Justiça de Colíder, clara na seletividade. Casos como os dos irmãos dele, que estavam às margens da lei e possivelmente por isso foram executados, abarrotam a Delegacia de Polícia Civil Local.
Salvo pela Educação
Kleber, trilhou caminhos diferentes e, desembocou na Educação. Mesmo com muitas dificuldades, mas com a crença em dias melhores, ele não desistiu. Com a ajuda de poucos e muito esforço, cambaleando a pé pelas ruas da cidade, estudou, terminou a faculdade e chegou lá.
Chegou mesmo?
Ah, Kleber estava feliz! pronto para ser admitido e trabalhar no que ama, ensinar, lecionar, trazer o sustento para o seu filho Simon, com muita honra e dignidade. Mas nada é fácil para ele. O jovem professor PCD, precisa passar no exame admissional, feito por alguém que ao que tudo indica, está se lixando para toda a história que ele construiu e para o que diz a lei.
Kleber não aceita ir para a vala comum
Parece que o pobre não pode vencer, ele tem que ser morto nas supostas trocas de tiros dos “faxineiros sociais”, aqueles que executam pessoas, de acordo com sua regra moral, ou imoral, agentes fora da lei, mas sob força do Estado.
O apoio popular
Na terça-feira (25), ao perceber uma certa “rispidez” do perito que o examinou, Kleber procurou a nossa reportagem para desabafar e mostrar toda a sua indignação, pela forma que foi tratado. Fizemos o nosso papel, transcrevemos o desapontamento dele, contamos um pouco de sua história e publicamos. A população, imediatamente se revoltou com o que teria acontecido com o jovem recém-formado. São milhares de acessos à matéria e dezenas de expressões sobre o fato e de apoio a ele. Professores também engrossam o coro de apoio ao menino que só quer uma oportunidade para educar, talvez oferecer aos outros, o apoio que não teve em sua caminhada.

O grito
“Eu não vou desistir de meus sonhos, de todo o meu esforço para chegar até aqui. Eu não vou desistir, os meus colegas já me chamam “professor” e eu quero respeito, eu quero dignidade, eu quero provar que a EDUCAÇÃO SALVA” diz Kleber Miyaki, o Dom Quixote de Colíder, lutando contra os moinhos de vento, que destroem sonhos que segregam e que oprimem.
O TV Notícia tenta contato com o perito Lourival Alves Frota, mas até o fechamento dessa matéria, não conseguiu falar com ele.